Guerra das Facções em Juiz de Fora: PCC vs CV nas Periferias

Facções como PCC e Comando Vermelho disputam o controle de bairros periféricos em Juiz de Fora com violência, tribunais do crime e medo imposto.
A guerra das facções em Juiz de Fora, especialmente entre o PCC e o Comando Vermelho, tem provocado aumento da violência nas periferias da cidade. Esse conflito entre facções impacta diretamente a segurança da população e desafia as autoridades locais na busca por soluções eficazes.
Imagem ilustrativa crime organizado em Juiz de Fora PCC e CV

Escalada da violência e mortes emblemáticas

Em maio de 2023, uma criança de 10 anos foi morta por uma bala perdida durante uma troca de tiros entre criminosos do CV e do PCC, no bairro Bela Aurora. Em novembro do mesmo ano, um líder do CV foi morto em confronto com a polícia no bairro Filgueiras. Investigações mostraram que o atirador responsável pela morte da menina era um ex-integrante do CV aliado ao PCC — evidenciando disputas internas.

Bairros afetados pela disputa e domínio das facções

As periferias são o principal campo de batalha entre as facções. Segundo a Polícia Militar, os bairros mais afetados incluem:

  • Vila Ideal: Tráfico de drogas e confrontos constantes.
  • Santo Antônio e Santa Rita (Zona Sudeste): entrada do PCC em 2020.
  • Bela Aurora e Sagrado Coração de Jesus (Zona Sul): violência letal e tráfico.
  • Vila Esperança I e II e Jockey (Zona Norte): alvo de ocupações policiais.
  • Filgueiras: confronto com a polícia e morte de liderança do CV.
  • Borboleta: descoberta de tribunal do crime em 2024.
  • Progresso e Marumbi: registros de tortura e execuções.

‘Tribunais do crime’, espancamentos e a imposição de uma lei paralela

Facções criminosas instalaram “tribunais do crime” que promovem julgamentos informais e punições brutais. Em abril de 2024, a Polícia Civil desmontou um grupo no bairro Borboleta envolvido em torturas e homicídios. No bairro Progresso, um homem acusado de furto foi espancado até a morte por traficantes. Moradores relataram que criminosos afixaram avisos instruindo a população a não chamar a polícia. Segundo o Coronel Zancanela, o CV chegou a divulgar mensagens como: “Não ligue para a PM; nós negociaremos os conflitos”, tentando impor uma lei própria nas comunidades. . Em entrevista coletiva no final de 2023, a PM anunciou que o PCC havia deixado a cidade, enquanto o CV permanecia atuante em diversos bairros de Juiz de Fora. Segundo a Polícia Militar, foi registrado o primeiro tiroteio entre as facções em agosto de 2022, marcado pela morte de dois adolescentes, de 14 e 16 anos. A cidade mergulhou numa escalada de homicídios relacionados à disputa por rotas de tráfico.

Dados de homicídios, prisões e violência urbana

Apesar da violência, os dados oficiais mostram queda nos homicídios:

  • 2021: 41 homicídios
  • 2022: 72 homicídios
  • 2023: 70 homicídios
  • 2024: 33 homicídios (menor índice desde 2012)

Também houve aumento nas prisões:

  • Prisões em 2023: 7.193 (contra 5.241 em 2022)
  • Prisões por tráfico: 962 (contra 608 em 2022)
  • Armas apreendidas: 276 (contra 254 em 2022)

A PM atribui os resultados a operações como a “Operação Ocupação” e ações de inteligência.

Queda da violência: policiamento ou Tribunais do crime?

Embora as autoridades creditem a queda da violência ao policiamento, analistas alertam que pode haver um silenciamento dos conflitos, com moradores evitando denúncias por medo de represálias.

A imposição de uma “lei do silêncio” pelas facções levanta a dúvida: os índices de homicídio refletem segurança real ou uma paz forçada?

Especialistas defendem mais investimentos em segurança, efetivo policial e políticas sociais. Um delegado reforçou que o apoio da comunidade com denúncias é fundamental para romper o ciclo de dominação.

Periferias nas mãos das facções

O período entre 2022 e 2025 em Juiz de Fora revela uma realidade complexa: de um lado, a repressão policial; de outro, o fortalecimento de poderes paralelos nas periferias. As estatísticas mostram queda, mas a vivência nas comunidades aponta para uma disputa ainda ativa. Enfrentar esse cenário exige mais do que operações: requer um projeto de segurança pública duradouro e humanizado.

Compartilhe
Rolar para cima