Nunca é tarde para estudar: caminhos para concluir o ensino médio em Juiz de Fora

Em Juiz de Fora, adultos e idosos têm oportunidades para retomar os estudos e concluir o ensino médio pelo EJA e ENEM, com cursos técnicos e programas de educação continuada que promovem inclusão e qualificação profissional

Para milhares de pessoas em Juiz de Fora, concluir o ensino médio pode parecer um desafio distante. Muitos interromperam os estudos ainda na infância ou adolescência por questões familiares, financeiras ou profissionais. Com isso o número de evasão escolar aumenta cada vez mais. Apesar disso, ainda  existem caminhos para retomar a educação e transformar sonhos em realidade.

EJA e ENEM: caminhos para retornar em qualquer idade

Um desses caminhos é o EJA (Educação de Jovens e Adultos), programa do governo voltado para jovens e adultos que não conseguiram concluir os estudos no tempo regular. Em Juiz de Fora, escolas públicas oferecem turmas de EJA no ensino fundamental e médio, com horários flexíveis que permitem conciliar estudo, trabalho e vida pessoal.  

Também recentemente o Ministério da Educação (MEC) aprovou a volta do uso da prova do ENEM para certificação do ensino médio. Pessoas que não concluíram a educação básica podem fazer a prova e, ao atingir a pontuação mínima, receber o diploma reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). A retomada do ENEM para esta finalidade ampliou o acesso para estudantes de todas as idades que buscam uma certificação oficial.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 9 milhões de brasileiros com 50 anos ou mais não concluíram o ensino fundamental ou médio. Entre esses, uma parcela crescente tem demonstrado interesse em retomar os estudos, buscando qualificação, autoestima e oportunidades profissionais. De acordo com o último Censo Escolar de 2025, no estado de Minas Gerais o número de inscrições no EJA foi de 144.304 novos alunos. Apesar disso, o número de abandono escolar no país ainda é muito expressivo. 

Histórias de superação e educação continuada na terceira idade

É nesse contexto que histórias como a de Eliane Aparecida Tiburcio, 62 anos, ganham destaque. Cozinheira, Eliane interrompeu os estudos aos 11 anos para ajudar a mãe e cuidar dos irmãos. Décadas depois, decidiu voltar a estudar motivada pelo incentivo do filho. Ela começou pelo EJA, enfrentando jornadas que iam das 7h30 às 22h30, conciliando trabalho e escola. Hoje, Eliane concluiu o ensino médio e já se prepara para o ENEM.

“Para mim foi como realizar um sonho que eu carregava desde criança”

Eliane Aparecida Tiburcio

O EJA não é apenas uma forma de concluir o ensino médio; ele fortalece habilidades cognitivas, promove inclusão social e abre portas no mercado de trabalho. Para muitos, especialmente os idosos, representa também a oportunidade de retomar a autoestima e a confiança em si mesmos.

“Não existe barreira, não tem limite. O céu é o limite pra quem quer voar”

Afirma Eliane, resumindo a experiência de quem retoma os estudos na terceira idade.

Superando barreiras: tecnologia e apoio em sala de aula

Apesar das boas experiências enquanto estava no processo escolar. Eliane relatou que teve momentos que pensou em desistir, por não se sentir capacitada, mas o apoio dos professores, colegas e familiares a ajudaram a continuar. 

Essa dificuldade, principalmente de grupos de idosos que voltam ao ensino, vem não apenas da diferença geracional, mas também de barreiras que métodos de ensino que cada vez mais dependem das tecnologias. Isso requer um cuidado para que esse grupo em particular não seja apenas alfabetizado, mas que também haja a inclusão digital. Eliane Tiburcio relata como foi o seu processo de aprendizado dentro das salas de aula. 

“Os professores do EJA, eles são muito bons,  te dão muita atenção e, muitas das vezes, eles deixam você levar o trabalho para fazer na sala de aula junto com eles. Também tive apoio de alunos que, geralmente, na idade que eu estou, a gente não estuda com pessoas só da minha idade. Tem muito menino novo na escola, que, às vezes, por algum motivo, saiu do turno da manhã,e  foi para o turno da noite”. 

Dia da formatura pelo EJA na Escola de Leopoldina Fonte: arquivo pessoal Eliane

Em Juiz de Fora, o  Centro de Estudos Supletivos Custódio Furtado de Souza (CESU) é uma referência prática para quem deseja concluir os estudos. Com a ajuda da prefeitura, a instituição garante o ensino para moradores e oferece orientação sobre matrícula, acompanhamento pedagógico e esclarece sobre como obter o diploma do ensino fundamental e médio. Interessados podem obter informações pelo telefone (32) 9 3690-7652.

Além disso, quem busca aprimoramento contínuo pode recorrer a cursos técnicos e programas complementares. Eliane, por exemplo, já se inscreveu no Trilhas do Futuro, projeto que oferece cursos técnicos para quem quer alunos que queiram se profissionalizar. São diversos cursos oferecidos com parceria de instituições públicas e privadas, disponíveis para alunos do 2° e 3³ ano do ensino médio, assim como alunos do EJA, e também para aqueles que já completaram os estudos. 

 Eliane que deseja dar continuidade aos estudos se inscreveu para dois cursos, o de gastronomia e design de moda. Além disso, também está inscrita para realizar o ENEM deste ano, buscando o sonho de se tornar uma terapeuta em um futuro breve. Esse programa combina formação prática e oportunidades profissionais, garantindo que estes cursos não apenas ampliam as habilidades do estudante, mas também criam novas perspectivas para o futuro, mesmo após os 60 anos.

A educação continuada na terceira idade também tem impacto social. Dados da UNESCO indicam que adultos que retornam aos estudos tendem a participar mais ativamente da comunidade, promovendo trocas de conhecimento e experiências. Programas como o EJA, o ENEM e cursos técnicos proporcionam, portanto, benefícios que vão além do aprendizado formal.

Para quem deseja retomar a educação em Juiz de Fora, o caminho é claro: identificar a modalidade que melhor se adapta à rotina, buscar apoio familiar e social, e persistir. Histórias como a de Eliane demonstram que, com determinação e acesso às oportunidades, nunca é tarde para estudar.

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