Projeto fundado na Vila Olavo Costa e hoje sediado no Bairro Ipiranga segue transformando vidas em Juiz de Fora

Um legado que nasceu do cuidado com o outro
A Associação Mão Amiga, criada há 40 anos por Maria Aparecida da Silva, conhecida como Dona Cida, vive um novo capítulo após a partida de sua fundadora, ocorrida há cerca de um mês. O projeto, que começou na Vila Olavo Costa e hoje funciona no Bairro Ipiranga, se tornou referência pelo trabalho social que acolhe e transforma vidas em Juiz de Fora.
Agora, quem assume a liderança é sua filha, Joana D’Arcy da Silva Correia, 44 anos, que desde cedo cresceu ao lado da mãe na instituição. Apesar do luto, Joana garante: o trabalho não parou — e nem vai parar.
“A Cida foi uma mulher guerreira, carente, de periferia, que com o sofrimento e com a dor dela conseguiu fazer para ajudar o próximo. A vida dela era a instituição, o Mão Amiga. Ela tinha medo de um dia vir alguém bater na porta e ela não estar aqui para atender”, relembra Joana.
De um pedaço de frango a um movimento de solidariedade
Joana conta que a história da Mão Amiga começou de forma simples, mas cheia de significado.
“Começou na Vila Olavo Costa, ela distribuindo pedaços de frango — conhecidos como dorsos. E foi expandindo: depois veio a entrega de cesta básica, doações de roupa, campanhas de material escolar, campanha de Natal, campanha do agasalho. Em cada campanha realizada, a gente guarda a presença dela.”
A filha esteve presente em todas essas etapas — primeiro como voluntária, depois assumindo o cargo de relações públicas da instituição. E agora, oficialmente, à frente do legado da mãe.
Apesar da dor, Joana reforça que a Mão Amiga não interrompeu as atividades nem por um dia.
“Ela faleceu no domingo, segunda foi o enterro e na terça a gente já retornou com às marmitex. São de 70 a 100 marmitas todos os dias, de segunda a sexta. Também temos fonoaudiólogo, psicólogo, aulas de desenho e reforço escolar. Todas as atividades já voltaram.”

Além das refeições diárias, a instituição também realizou a entrega de 100 cestas básicas poucos dias após a perda de Dona Cida — e segue atendendo famílias em situação de vulnerabilidade.
“Não é um momento muito fácil. Está sendo um momento muito difícil. Mas vamos seguir firme o legado dela. Tudo que ela não conseguiu fazer nesses 40 anos, a gente vai tentar. A gente vai tentar não, a gente vai conseguir.”
Apoio da comunidade fortalece o caminho
Segundo Joana, o carinho recebido da comunidade tem sido essencial nesse processo de retomada.
“Todos estão abraçando a gente. Todos estão nos apoiando. É muita palavra de carinho, de amor. Tanto quem busca doação quanto quem traz. O carinho está enorme. Então a gente só tem que agradecer à comunidade e aos doadores pelo gesto tão amoroso.”
Para ela, não há desafios em continuar o trabalho, porque Dona Cida deixou tudo muito bem estruturado — o que pesa mesmo é a ausência da mãe.
“Essa missão eu já assumi junto com ela. Para mim não está sendo fácil porque é minha mãe. A gente está falando de família. Mas de assumir está sendo tranquilo. A dor maior é porque ela não está presente.”
Festa do Dia das Crianças será em memória de Dona Cida
A próxima grande ação da instituição será a festa do Dia das Crianças, um dos eventos mais queridos de Dona Cida e que, este ano, será realizado em sua memória.
“Ela dizia: temos que fazer diferença. Esse ano a gente tem que colocar brinquedo inflável pras crianças. Porque talvez as crianças da comunidade não tenham oportunidade de brincar com um brinquedo desse”, lembra Joana.
A celebração vai acontecer no dia 11 de outubro, com atividades de manhã no Curumim de Santa Luzia e à tarde na Juventude Imperial, reunindo também crianças da Vila Olavo Costa e do Jardim Casa Blanca. Serão cerca de 800 crianças atendidas ao longo do dia, garantindo um momento de lazer, alegria e inclusão.
Joana conta que a ideia de colocar brinquedos infláveis surgiu a partir de uma experiência no ano anterior, quando os próprios meninos que haviam sido beneficiados com material escolar e doações ajudaram a organizar a festa na Vila Olavo Costa.
“Eles pagaram os brinquedos infláveis de lá e falaram para a gente que só precisávamos levar o molho de cachorro-quente, o refrigerante e os presentes. Quando minha mãe viu a emoção das crianças, ficou muito emocionada. Ela disse: tenho que levar esses brinquedos para as crianças do Casa Blanca.”
A equipe pede o apoio da comunidade para que o evento seja ainda mais especial. “Vamos precisar muito da dedicação de todos — seja um refrigerante, um pacote de bala, qualquer ajuda — para fazer essas 800 crianças felizes. Vai ser em memória dela. É o que ela queria antes de falecer”, reforça Joana.
Ao ser convidada a resumir o legado da mãe em uma frase, Joana se emociona ao lembrar das palavras que Dona Cida sempre repetia:
“A mão que estende para doar é a mesma mão que estende para receber.”