Joana D’Arcy da Silva Correia, filha da fundadora da Mão Amiga, Maria Aparecida da Silva, assumiu a liderança da instituição após o falecimento da mãe. Com 44 anos e experiência como cuidadora de idosos, Joana já atuava como relações públicas da associação e agora segue firme no comando do projeto que transformou a vida de milhares de pessoas em Juiz de Fora.
“ Na verdade eu já participava, a gente sempre participou, né? Sou filha da Cida, que foi a presidente e fundadora, então sempre estive na participação do projeto”, conta Joana.
Como tudo começou
A Associação Mão Amiga surgiu com a iniciativa de sua mãe, que trabalhava como faxineira e identificou uma forma de ajudar a comunidade ao recolher pedaços de frango que seriam descartados em um abatedouro.
“Morando na Vila Olavo Costa, ela viu a necessidade das pessoas que não tinham condições e resolveu começar a entrega de dorsos de frango. Através dessas entregas, surgiu a instituição”, explica Joana. “Minha mãe chegou a entregar mais de quatro toneladas de frango em caminhão fechado. Foi ali que surgiu, pelo sofrimento dela e da comunidade, um trabalho de ajuda mútua.”
O projeto inicialmente atendia moradores da Vila Olavo Costa, Vila Ozanã e Furtado de Menezes, expandindo ao longo do tempo para a Zona Sul da cidade e Jardim Casa Blanca. “A gente atende a todos que precisam. Na verdade, a gente é um bom amigo. Precisa de ajuda, a gente está disposto a ajudar”, afirma Joana.
Marcos e conquistas
Ao longo dos anos, a Mão Amiga conquistou reconhecimento nacional e a confiança da comunidade. “A maior conquista é saber que temos todos os doadores e amigos que confiam no trabalho da gente, nesses 40 anos”, conta Joana.
Entre as conquistas, destaca-se o prêmio dos Melhores do Ano, concedido pelo programa de Luciano Huck, um reconhecimento que emocionou a família e reforçou a importância do trabalho da instituição. Apesar das alegrias o projeto passou por um momento após a premiação, onde as doações diminuíram, justamente pela população acreditar que a instituição havia recebido algum dinheiro nessa premiação.
A verdade é que nunca houve nenhum premio em dinheiro sequer, e a Dona Cida, teve que dar um pronunciamento explicando que ela não havia ganhado nada além do reconhecimento e que não era para as pessoas pararem de doar, pois eram as doações que garantiam a ajuda para a população vulnerável.
Quando questionada sobre a estimativa de pessoas atendidas, Joana aponta que, mensalmente, cerca de 2.500 pessoas passam pelos serviços da Mão Amiga, que incluem tratamentos com fonoaudiólogo, psicólogo, aulas de reforço escolar e de desenho, além de doações de alimentos e roupas. Ela ressalta que muitos atendidos são acompanhados por anos, o que torna difícil calcular um total exato, mas que a média reflete o impacto contínuo da associação.
A força do legado familiar
Assumir a continuidade do projeto da mãe é para Joana uma missão de fé e dedicação. “Carregar essa continuidade é uma oportunidade que Deus está me dando pra continuar. Fácil não é. Como uma amiga me disse, tá chorando, tá gemendo, mas segue firme”, afirma.
A família participa ativamente do projeto: “Minha mãe passou pra mim, mas também pros meus irmãos. A primeira coisa que a gente pensou foi se unir, se fortalecer. Os meus filhos já ajudam e tenho certeza que daqui a pouco serão os meus netos. É de geração em geração mesmo. Porque esse amor que a gente tem pelo próximo não pode acabar”, conta Joana.
Um exemplo de esperança e solidariedade
A Mão Amiga sobrevive exclusivamente de doações. “Não temos parceria nem com a prefeitura, nem com o governo. Sempre sobreviveu de doações. As doações chegam através de quem confia no trabalho da gente: alimento, roupa, material escolar, campanha do agasalho. A instituição tem 40 anos e nunca recebeu uma emenda parlamentar”, esclarece Joana.
Ela ressalta que a comunidade pode colaborar levando crianças para o reforço escolar ou aulas de desenho, divulgando o trabalho da associação nas redes sociais e ajudando diretamente quem precisa. “Às vezes uma pessoa precisa de uma psicóloga, ou de um alimento. Lá no Mão Amiga a gente oferece. A participação da comunidade é fundamental”, reforça.
Joana também lembra um episódio que marcou profundamente sua retomada no trabalho após o luto: “Cheguei do cemitério às quatro horas da tarde. Às sete horas da noite, um menininho bateu na porta e falou assim: ‘Eu vim te dar os meus sentimentos. Eu sei que você está triste, eu também estou triste, mas eu queria muito um litro de leite, e eu vim aqui porque sei que você vai me dar’. Ele estava triste, mas também precisava de um leite. Ali eu peguei força pra continuar. É a porta que Deus abre, ninguém fecha. Está entregue na mão de Deus.”
Para Joana o Mão Amiga, representa muitas coisas para ela. “O Mão Amiga é amor, generosidade. É esperança. Pra quem bate nessa porta, é ter um alimento, é ter um tratamento.”
A frase, que resume a filosofia da instituição, reflete o trabalho de 40 anos que transformou vidas e continua a inspirar solidariedade e dedicação em toda a cidade.